El
poeta brasileño, Manoel de Barros (1916-2014), nos dejó el pasado jueves, a los
97 años. Vinculado a la Generación del 45 y al Modernismo brasileño, creó un
universo propio-dando la vuelta a la sintaxis- marcado, sobre todo, por
neologismos y sinestesias.
Carlos
Drummond de Andrade declaró que Manoel de Barros era el mayor poeta vivo de
Brasil, con una poesía que no huye de un sustrato ético muy profundo. Sus visiones
oníricas en un primer momento, se revelan después muy reales y de una fuerte
relación con la tierra.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
El recolector de desperdicios
No me gustan las palabras
cansadas de informar.Respeto más
las que viven con el vientre en el suelo
tipo agua piedra sapo.
Entiendo bien el acento de las aguas.
Respeto las cosas poco importantes
Y a los seres poco importantes.
Aprecio los insectos más que los aviones.
Aprecio la velocidad
de las tortugas más que la de los misiles.
Tengo en mí ese retraso de nacimiento.
Yo fui engendrado
para que me gustasen los pájaros.
Por eso tengo abundancia de felicidad.
Mi patio es mayor que el mundo.
Soy un recolector de desperdicios:
Amo los restos
como las buenas moscas.
Quería que mi voz tuviese un formato de canto.
Porque yo no soy de informática:
soy de invencionática.
Sólo uso la palabra para componer mis silencios.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.
I
Mi mundo es pequeño, Señor.
Tiene un río y unos pocos
árboles.Nuestra casa se hizo de espaldas al río.
Hormigas recortan los rosales de la abuela.
Al fondo del patio hay un niño y sus trastos
maravillosos.
Todas las cosas de este lugar ya están comprometidas
con las aves.
Aquí, si el horizonte enrojece un poco, los
escarabajos piensan que están en un incendio.
Cuando el río está empezando un pez,
Él me cosa
Él me rana
Él me árbol.
En la tarde un anciano tocará su flauta para invertir
los ocasos.